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O Caimão



"Chi vuole sapere quelle cose, già le sa. E chi non vuole saperle, non lo vedrà ugualmente."



Opinião italiana
http://www.pianosequenza.net/dblog/articolo.asp?articolo=24

Uma Opinião portuguesa Por: Luís Miguel Oliveira (PÚBLICO)

Nome de código: Itália

Na primeira cena em que aparece, a personagem interpretada por Nanni Moretti (um actor sondado para entrar no "filme no filme" que também se chama "O Caimão") diz qualquer coisa como: "Mas que necessidade há de fazer um filme sobre Berlusconi? Tudo o que há a saber sobre Berlusconi sabe-se. Quem quer saber sabe, quem não quer saber não sabe".

Questionar essa necessidade (no fundo, e em determinado grau, a necessidade de se fazer um filme como "O Caimão") é um dos aspectos mais curiosos deste filme altamente escorregadio e "elusivo", mas não é um questionamento que surja no vazio, inconsequentemente - pelo contrário, talvez seja mesmo o que lhe decide a estrutura e o rumo.

Não ser, por exemplo, um filme nem pouco nem muito "sensacionalista", nem pouco nem muito "denunciatório", e no limite talvez só um pouco sobre Berlusconi. "O Caimão" consiste basicamente em duas histórias cruzadas. A história da desagregação familiar do protagonista Bruno, que se está a separar da mulher, e a história da sua tentativa de "reagregação" profissional: foi um produtor de cinema popular (e "reaccionário") nos anos 70, depois entrou em declínio e nunca mais se endireitou; abandonado pelo último realizador que lhe era fiel (papel a cargo do veterano cineasta Giuliano Montaldo), que preferiu levar o seu projecto de filme sobre Cristóvão Colombo para outro produtor, agarra-se com unhas e dentes ao projecto de "O Caimão", um filme sobre Berlusconi que lhe foi proposta por uma jovem realizadora estreante - e agarra-se não por ser um filme sobre Berlusconi ("eu até votei nele"), mas por lhe ter caido nas mãos, por ser a única hipótese viável de trabalhar.

Como um burlesco crescentemente nervoso e angustiado, a história de "O Caimão" é esta aventura pessoal/profissional de Bruno. É a espécie de fundamental indiferença dessa aventura e dessas históriaspara com o "tema" do filme (que só entra praticamente pelo "filme no filme") que torna interessantes e intrigantes as aproximações de Moretti.

Entre a condição familiar de Bruno, o declínio do cinema popular italiano de 70, e a sombra de Berlusconi, que relação? O filme sugere alguma explicação, mas nãotoda, assim como não esconde uma hipótese de fotografia de uma geração "encalhada" e de um retrato de conjunto italiano. Mas o que é interessante é que Moretti, trabalhando e organizando a sua narrativa quase numa maneira de "montagem intelectual", desencadeie no espectador um curioso processo mental - será ele, espectador, quem deve procurar o "fil rouge" dessa disseminação do "político" no quotidiano, pessoal, cultural, profissional. A angústia de "O Caimão" vem daí, da tensão invisível da sua construção. O seu final apocalíptico, em sombra e em chamas, recusando um rosto a Berlusconi (porque foi acumulando rostos para Berlusconi), torna evidente pelo menos uma coisa: Berlusconi está no "caimão" mas o "caimão" não é Berlusconi. Em "O Caimão", "caimão" provavelmente é apenas nome de de código para "Itália".



A minha opinião:

Eu gostei do filme, da personagem do Bruno e sobretudo da sua relação com os filhos. Em termos da mensagem política inerente ao filme e à sua estreia, eu penso que a energia com que esta temática era apresentada noutros filmes, quase que indicia um desalento com o povo italiano. Isto é, quem já sabe não quer saber e quem não sabe não quer saber.

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