O rosto da notícia
"Não acha que as histórias com pessoas ajudam a perceber os problemas mais gerais?
Não, isso é uma tendência nova, e odeio-a. Está-se a fazer uma pessoalização mesmo das histórias noticiosas. Faz-se uma história porque uma militar americana se casou com um capitão no Iraque e deixaram a família em Chicago. Faz-se uma história sobre pessoas, e não se diz nada sobre o Iraque. Um jornalista vai ao Iraque e escreve sobre uma família iraquiana porque a história dessa família explica coisas sobre o país e é uma forma de mais gente ler sobre o Iraque.É um erro, é um erro. Quer fazer uma história sobre os sem-abrigo em Lisboa? Muito bem. Pega-se numa rapariga e diz-se "o nome dela é Manuela, tem 25 anos, a mãe morreu por isto, o pai bebia". O que é que isso interessa? Contar muitas histórias individuais nunca me conta a verdadeira história. O meu objectivo em Perpignan é mostrar o verdadeiro mundo, e se hoje precisamos de histórias individuais para compreender o mundo, então, desculpem, mas somos estúpidos. Interessam-me os sem-abrigo, mas não me interessa esta Manuela. Interessa-me a sida em África, mas não me interessa o Mohammed que vive no Sudão e lá lá lá. São problemas globais, e está-se a tentar ver o mundo de uma perspectiva pequena. Não sei se viu o trabalho de Kadir [Van Lohuizen, que é também júri do Prémio Fotojornalismo Visão/BES] sobre diamantes. Ele mostra-nos a história de um diamante desde a Serra Leoa até aos grandes joalheiros em Londres. É uma história linda e não é pessoalizada. O que eu digo é que como não sabem como mostrar uma coisa fazem retratos. Isso não me interessa. "
Excerto do Público 30.03.2007, Entrevista de Alexandra Prado Coelho a Jean-François Leroy.
Não, isso é uma tendência nova, e odeio-a. Está-se a fazer uma pessoalização mesmo das histórias noticiosas. Faz-se uma história porque uma militar americana se casou com um capitão no Iraque e deixaram a família em Chicago. Faz-se uma história sobre pessoas, e não se diz nada sobre o Iraque. Um jornalista vai ao Iraque e escreve sobre uma família iraquiana porque a história dessa família explica coisas sobre o país e é uma forma de mais gente ler sobre o Iraque.É um erro, é um erro. Quer fazer uma história sobre os sem-abrigo em Lisboa? Muito bem. Pega-se numa rapariga e diz-se "o nome dela é Manuela, tem 25 anos, a mãe morreu por isto, o pai bebia". O que é que isso interessa? Contar muitas histórias individuais nunca me conta a verdadeira história. O meu objectivo em Perpignan é mostrar o verdadeiro mundo, e se hoje precisamos de histórias individuais para compreender o mundo, então, desculpem, mas somos estúpidos. Interessam-me os sem-abrigo, mas não me interessa esta Manuela. Interessa-me a sida em África, mas não me interessa o Mohammed que vive no Sudão e lá lá lá. São problemas globais, e está-se a tentar ver o mundo de uma perspectiva pequena. Não sei se viu o trabalho de Kadir [Van Lohuizen, que é também júri do Prémio Fotojornalismo Visão/BES] sobre diamantes. Ele mostra-nos a história de um diamante desde a Serra Leoa até aos grandes joalheiros em Londres. É uma história linda e não é pessoalizada. O que eu digo é que como não sabem como mostrar uma coisa fazem retratos. Isso não me interessa. "
Excerto do Público 30.03.2007, Entrevista de Alexandra Prado Coelho a Jean-François Leroy.
Enviar um comentário