"Em Julho de 1959, o vice-presidente americano, Richard Nixon, viajou até Moscovo para inaugurar uma exposição onde se exibiam conquistas tecnológicas e materiais do seu país. O ponto alto da exposição era uma réplica à escala natural de uma casa de um trabalhador americano: vinha equipada com alcatifas à medida, uma televisão na sala, duas casas de banho nos quartos, aquecimento central e uma cozinha com uma máquina de lavar, um secador de roupa e um frigorífico.
Ao noticiar a exposição, a inflamada imprensa soviética negava escarniçadamente que um trabalhador médio americano pudesse viver em semelhante luxo e alertava os leitores para o facto de toda aquela casa ser uma deplorável peça de propaganda - depois de a ter baptizado, ironicamente, como "Taj Mahal".
Enquanto Nixon conduzia Nikita Khruschev pela exposição, o líder soviético dava mostras do seu cepticismo. À entrada da cozinha da casa modelo, Khruschev reparou num espremedor de limões eléctrico e observou a Nixon que ninguém no seu perfeito juízo estaria interessado em adquirir uma "bugiganga tão tola".
"Tudo o que faça com que as mulheres trabalhem menos tem de ser útil", respondeu Nixon.
"Nós não vemos as mulheres em termos de trabalho como vocês no sistema capitalista", retrucou Khruschev, iracundo.
Mais tarde nessa noite, Nixon foi convidado a fazer uma declaração na televisão soviética e aproveitou a ocasião para discursar sobre as vantagens do modelo americano. Arguto, não quis iniciair o seu discurso com referências à democracia e aos direitos humanos; começou por falar em dinheiro e no progresso material. Nixon explicou que ao longo das últimas centenas de anos os países ocidentais tinham, através da livre empresa e da indústria, conseguido superar a probreza e a fome que existira até meados do século XVIII - e que continuava a grassar em muitas partes do mundo. O povo americano possuía 56 milhões de televisores e 143 milhões de rádios, anunciou ele aos espectadores soviéticos, muitos dos quais não tinham sequer acesso a uma casa de banho ou a uma caldeira. Cerca de 31 milhões de famílias haviam comprado casa própria. Uma família média americana podia comprar 9 fatos e vestidos e 14 pares de sapatos por ano. Nos Estados Unidos, uma pessoa podia comprar uma casa em mil estilos arquitectónicos diferentes. A maioria destas casas era maior do que um estúdio de televisão. Khruschev, sentado a seu lado, estava visivelmente furioso, cerrando os punhos e repetindo, "Nyet, nyet!" - e acrescentado entre dentes, segundo um relato de um circunstante, "Eb'tvoyu babushky" (Vai foder a tua avó)."
# de "Status Ansiedade", de Alain de Button
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."
mais aqui
http://cavernavinicius.blogspot.com/
"As imagens são mais reais do que alguma vez se imaginou. E é precisamente por serem um recurso ilimitado (que a dissipação consumista não pode esgotar) que há muito mais razões para que se lhes administre um tratamento que permita conservá-las. A existir uma forma de melhor integrar o mundo das imagens no mundo real, ela passará necessariamente por uma ecologia, não só das coisas reais, mas também das imagens."
Susan Sontag in Ensaios sobre Fotografia (Dom Quixote, 1986)
retirado do Blog Playtime (http://esteticaestc.blogspot.com/)
Lisboetas é um documentário político sobre a vaga de imigração que nos últimos anos mudou Portugal.
Lisboetas é o retrato de um momento único em que o país e a cidade entraram num processo de transformação irreversível.
Lisboetas é um filme que rejeita o habitual tratamento jornalístico e aborda a experiência humana dos imigrantes da grande Lisboa de um ponto de vista cinematográfico.
Lisboetas é uma janela secreta sobre novas realidades: modos de vida, mercado de trabalho, direitos, cultos religiosos, identidades. É uma viagem a uma cidade desconhecida, a lugares onde nunca fomos e que estão aqui.
Lisboetas é um retrato por dentro. A palavra é dada aos recém chegados. Talvez por isso, como escreveu a crítica do “Público” Kathleen Gomes, “os estrangeiros aqui somos nós”.
Lisboetas não é um filme dogmático, mas é um filme incómodo e que deixa muitas questões em aberto - por que é difícil avaliar o quanto tudo mudou e ainda pode mudar. "sinopse RTP"
Um documentário de Sérgio Tréfaut.
Amanhã Sexta 23 de Março - 23:30 na RTP 2
Etiquetas: cinema
O filme é Once upon a time in the West e a música My Body is a Cage!
Etiquetas: cinema
Plano simples???